Ato final
Depois de muitos anos sem te ver, calhou de nossos caminhos cruzarem em um sábado a noite.
O decurso do tempo diminuiu a dor, mas a sua indiferença sempre foi capaz de abrir feridas antigas.
Na mais pura sinceridade, acredito que esses momentos escancarem as portas de um ego ferido.
Estar ciente da pouca importância que se teve na vida de um amor é incontestavelmente um dos golpes mais cruéis.
O dia seguinte a sexta-feira Santa tem nome? Deveria chamar-se Profano.
Após desviar dos olhos dos meus demônios por um par de horas, me vi sozinha a confrontar minha própria imagem.
O inconstante reflexo traduziu com maestria brilhante as impermanências da última década.
Não era mais a menina insegura que nutriu paixão ardente e paciente por você.
Não era mais a jovem selvagem e rebelde que disputou seu amor escasso.
Do outro lado do espelho encontrei a mulher vestida de coragem que tanto sonhei ser.
Coberta de amor da cabeça aos pés, não me satisfaço mais com os resquícios de atenção que você destina a mim.
