Carta a um(a) jovem poeta

Le Chieppe
2 min readJul 29, 2024

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Imagem retirada do site da editora Antofágica (https://www.antofagica.com.br/produto/cartas-poeta/)

Vinha me sentindo um tanto quanto desconectada da escrita. Uns meses sem publicar, ditando passagens de textos nunca concretizados para mim mesma no banho.

Não largo meu diário. Nem minhas cartas. Ai já é demais, eu penso por escrito… Não sei existir sem papel e caneta.

Mas, escrever escrever… virou algo raro.

Eis que ganhei A edição de ‘Cartas a um jovem poeta’ de Rainer Maria Rilke. A edição com ‘A’ maiúsculo mesmo, da editora Antofágica.

A capa, as ilustrações e a diagramação são uma poesia a parte. Desses trabalhos que a gente bate o olho e vê que foi feito por quem ama muito o que faz.

O livro me fez um convite, praticamente um puxão de orelha. É que, ao ser questionado por um jovem e inseguro poeta sobre seus versos, Rilke responde:

Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem — usando da licença que me deu de aconselhá-lo — peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, — ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite:”Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples “sou”, então construa a sua vida de acordo com esta necessidade.

Veja, em algumas poucas linhas, Rilke soluciona o dilema de milhares de escritores — eu, inclusive.

Ficamos tão apegados a qualidade de nossas palavras, a perfeição de nossos versos. Nos agarramos incansavelmente a aprovação dos nossos potenciais leitores — desejando ardentemente que hajam leitores. Olhamos, dia após dia, para fora, quando a escrita nos pede para olhar para dentro.

Como qualquer artista, escritores produzirão incontáveis obras ruins. Textos desconexos e desajeitados. Um punhado de poesias clichês e outro tanto de romances inacabados.

Todavia, Rilke não poderia ser mais claro ao expor que, o artista que decide que a arte é seu propósito, deve voltar toda a sua vida a executar essa missão.

Não importa quantos momentos eu me sinta afastada da escrita. No fim das contas, sempre volto a ela.

Encontro meu refúgio nas palavras. Escrevo porque preciso, escrevo porque amanhece.

Sou escritora, afinal.

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